RioGuanabara - 1 d.C a 1300

Séculos 1 depois de Cristo a 1300

O Primeiro Milênio d.C começou no primeiro ano depois de Cristo e vai até o ano 1000 d.C, abrangendo a maior parte da Pax Romana (31 a.C - 235 d.C), a Antiguidade tardia (235 - 450/476), a primeira época medieval conhecida como Idade das Trevas (450 - 900) e o primeiro século da Alta Idade Média (900 - 1300). Ano zero não é usado no calendário gregoriano e nem no seu predecessor, o calendário juliano. O ano 1 a.C foi imediatamente sucedido pelo ano 1 d.C.


Natal. Segundo Santo Agostinho, em seu livro De Trinitate, 4º volume, a data do Natal foi estabelecida em 7 de Janeiro (hoje em dia modificada para 25 de Dezembro) porque uma tradição afirma que a concepção de Jesus foi no dia 8 de Abril e a gestação ocorreu durante 9 meses exatos. Usando uma abordagem de estimar a data, retrocedendo, a partir de fatos históricos conhecidos, alguns estudiosos estimaram o ano de 28 d.C como sendo, a grosso modo, o 32º aniversário de Jesus e, portanto, que ele teria nascido entre 6 e 4 a.C.

27 a.C Lista dos imperadores romanos.

1 Anno Domini. Termo em latim que significa: "ano do Senhor", também apresentado na sua forma abreviada A.D, é uma expressão utilizada para marcar os anos seguintes ao ano 1 do calendário mais comumente utilizado no Ocidente, designado como "Era Cristã" ou, ainda, como "Era Comum" (esta última designação é a preferida por quem tenta evitar referências religiosas). A abreviatura de Anno Domini é A.D para designar depois de Cristo, logo também D.C ou d.C. Segundo este critério, também utiliza-se a abreviatura A.C ou a.C para designar os anos antes de Cristo.

Linha do Tempo A.D



1. Mapa Mundi no ano 1. Mapa atual mostra o mundo conhecido pelos europeus no século 1.



14 Tibério, Imperador Romano, 14/37; Tibério Cláudio Nero César. Tinha uma vida pessoal de costumes duvidosos, mesmo para a sua época. Segundo Suetônio, era pedófilo, e recrutava crianças para lhe servirem de lacaios em suas cerimônias pervertidas e lascivas. Gostava de banhar-se com tais crianças em piscinas particulares, e fantasiar que elas eram peixes lhe satisfazendo. Um dos lacaios de Tibério foi, ironicamente, seu sobrinho neto que iria suceder-lhe o trono, Calígula. Tais depravações chocaram os romanos quando surgiram à tona, o que agravou ainda mais a sua já delicada situação política. Não obstante todas as insinuações acerca da sua vida privada, Tibério foi um grande administrador, tendo multiplicado em muito o dinheiro deixado por Augusto e tendo preservado a "Pax Romana". O fato de chegar a ser avarento, não dando jogos ao povo romano, como era costume, contribuiu mais para o ódio em que a sua figura incorreu. Quando morreu, o povo respirou aliviado. Em Roma, a multidão gritou: Tiberius ad Tiberim (Tibério ao Tibre!).

30. Cristo. Cristo é o termo usado em português para traduzir a palavra grega Χριστός (Khristós) que significa "Ungido". O termo grego, por sua vez, é uma tradução do termo hebraico מָשִׁיחַ (Māšîaḥ), transliterado para o português como Messias.

A palavra geralmente é interpretada como o sobrenome de Jesus por causa das várias menções a "Jesus Cristo" na Bíblia. A palavra é, na verdade, um título, daí o seu uso tanto em ordem direta "Jesus Cristo" como em ordem inversa "Cristo Jesus", significando neste último O Ungido, Jesus. Os seguidores de Jesus são chamados de cristãos porque acreditam que Jesus é o Cristo, ou Messias, sobre quem falam as profecias da Tanakh (que os cristãos conhecem como Antigo Testamento). A maioria dos judeus rejeita essa reivindicação e ainda espera a vinda do Cristo. A maioria dos cristãos espera pela Segunda vinda de Cristo quando acreditam que Ele cumprirá o resto das profecias messiânicas.

A expressão "Jesus Cristo" surge várias vezes nos escritos gregos da Bíblia, no Novo Testamento, e veio a tornar-se a forma respeitosa como os cristãos se referem a Jesus, Homem Judeu que, segundo os evangelhos, nasceu em Belém da Judeia e passou a maior parte da sua vida em Nazaré, na Galileia, sendo por isso chamado, às vezes, de Jesus de Nazaré ou Nazareno. O título Cristo, portanto, confere uma perspectiva religiosa à figura histórica de Jesus.

30 Lista dos papas.

30 Pedro, 1º Papa, 30/67; São Pedro. Foi um dos doze Apóstolos de Jesus Cristo, como está escrito no Novo Testamento e, mais especificamente, nos quatro Evangelhos. O seu nome original não era Pedro, mas Simão. Nos livros dos "Atos dos Apóstolos" e na "Segunda Epístola de Pedro", aparece ainda uma variante grega do seu nome original: Simeão. Cristo mudou seu nome para Petros - Pedro, nome grego, masculino, derivado da palavra "petra", que significa "Pedra" ou "rocha". O Apóstolo São Paulo designava-o pelo nome de Cephas, Kephas, Kepha ou Cefas que em aramaico significa o mesmo: rocha - note-se, aliás, que, Cristo falava principalmente aramaico, logo terá sido essa a designação dada a Simão e não a versão grega que ficou para a posteridade. Pedro é considerado o príncipe dos apóstolos e o fundador, junto com São Paulo, da Igreja de Roma (a Santa Sé), sendo-lhe reconhecido ainda o título de primeiro Papa (um tanto anacronicamente, posto que tal designação só começaria a ser usada cerca de dois séculos mais tarde – Pedro foi o primeiro Bispo de Roma); essa circunstância é importante, pois daí se tira a primazia do Papa sobre toda a Igreja.

51 1º Concílio Ecumênico, Jerusalém. A admissão de gentios (não judeus) era um fato de difícil compreensão para os cristãos judeus, que ainda se encontravam em parte presos às velhas tradições e práticas antigas. Entre eles estabeleceu-se uma dúvida e uma polêmica: saber se os gentios ao se converterem ao cristianismo teriam que adotar algumas das práticas antigas da Lei Mosaica para poderem ser salvos, inclusive o fazer-se circuncidar. Para tratar da aplicabilidade ou da convivência da Lei Antiga com a Lei Nova reuniram-se todos os apóstolos em "concílio". Paulo e Barnabé se fizeram portadores do ponto de vista das comunidades não judaicas e Pedro manifestou-se a favor da liberdade dos cristãos com relação à Lei Antiga. Por proposta de Tiago, bispo de Jerusalém, o "concílio" decidiu não impor qualquer outra carga aos gentios batizados e bastaria que se abstivessem da fornicação e, por consideração aos judeus cristãos, que se abstivessem de comer carnes sufocadas (At. 15, 1-33). Este primeiro concílio ecumênico foi de importância fundamental porque teve como principal decisão libertar a Igreja nascente das regras antigas da Sinagoga, marcou definitivamente o desligamento do cristianismo do judaísmo e confirmou para sempre o ingresso dos gentios (não judeus) na cristandade.

150 Ptolemeu (85/165). Claudius Ptolemaeus, Ptolemeu ou Ptolomeu, foi um cientista grego que viveu durante o período helenista provavelmente em Alexandria, na então província romana do Egito. Ele é reconhecido pelos seus trabalhos em matemática, astrologia, astronomia, geografia e cartografia. Realizou também trabalhos importantes em ótica e teoria musical. A sua obra mais conhecida é o Almagesto, um tratado de astronomia. Esta obra é uma das mais importantes e influentes da Antiguidade Clássica. Nela está descrito todo o conhecimento astronômico babilônico e grego e nela se basearam as astronomias de Árabes, Indianos e Europeus até o aparecimento da teoria heliocêntrica de Copérnico. No Almagesto, Ptolomeu apresenta um sistema cosmológico geocêntrico, isto é a Terra está no centro do Universo e os outros corpos celestes, planetas e estrelas, descrevem órbitas ao seu redor. A sua obra mais extensa é Geografia que, em oito volumes, contém todo o conhecimento geográfico greco-romano. Esta inclui coordenadas de latitude e longitude para os lugares mais importantes. Naturalmente, os dados da época tinham bastante erro e o mapa nesta apresentado está bastante deformado, sobretudo nas zonas exteriores ao Império Romano. Também autor do tratado Ótica, um conjunto de cinco volumes sobre este tema, em que estuda reflexão, refração, cor, e espelhos de diferentes formas. Escreveu também Harmônica um tratado sobre teoria matemática da música.
Em 150 Ptolemeu elaborou os dados para a criação de um mapa mundo. Infelizmente, nenhum desses mapas foi preservado e o seu trabalho foi perdido para o Ocidente até a Renascença. Scholars, em 1482, recriou este mapa de Ptolemeu usando as instruções na obra Geografia, que expõe como projetar uma esfera numa folha de papel usando um sistema de linhas: longitudes e latitudes. O mapa consiste no mundo conhecido por ele. Ele não especula sobre o desconhecido, e como ele trabalhava em Alexandria o mapa é mais detalhado no Mediterrâneo. Existem apenas 3 continentes: Europa, Ásia e África. As 2 linhas vermelhas são os Trópicos de Câncer e Capricórnio; o mar é marrom claro, os rios são azuis e as montanhas marrom escuro. As cabeças à volta representam os principais ventos. Mais: The Story of Geographical Discovery.

307 Constantino I, Imperador Romano, 307/337; Constantino Magno, Constantino, o Grande. Nasceu em Naissus, na Alta Dácia (atual Romênia). A sua vitória em 312 sobre Maxêncio na Batalha da Ponte Mílvio resultou na sua ascensão ao título de Augusto Ocidental, ou soberano da totalidade da metade ocidental do império. Consolidou gradualmente a sua superioridade militar sobre os seus rivais com o esfarelamento da Tetrarquia até 324, quando derrotou o imperador oriental Licínio, tornando-se imperador único. Foi o primeiro imperador romano a confirmar o cristianismo, na sequência da sua vitória da Batalha da Ponte Mílvio, perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão, pois na noite anterior da batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito "sob este símbolo venceras", e de manhã, um pouco antes da batalha, mandou que pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e conseguiu um vitória esmagadora sobre o inimigo. Com o Edito de Milão em 313, legalizou e apoiou fortemente a cristandade, mas não tornou o paganismo ilegal ou fez do cristianismo a religião estatal. Convocou o concílio de Niceia para unificar a Igreja cristã pois com as divergências desta, o seu trono poderia estar ameaçado. Embora batizado, há duvidas se realmente ele se tornou Cristão. Nunca abandonou sua adoração ao deus Sol (Deus Sol Invicto), tanto que em suas moedas manteve como símbolo principal o sol. Até o dia da sua morte usou o título pagão de Sumo Pontífice, o chefe supremo em assuntos religiosos, aí incluída a Igreja Cristã. Influenciou em grande parte na inclusão, na igreja cristã, de dogmas baseados em tradições, uma das mais conhecidas foi o Edito de 321, que determinou oficialmente o domingo como dia de repouso, com exceção dos lavradores. Reconstruiu a antiga cidade grega de Bizâncio, chamando-a de Nova Roma, dotando-a de um senado e ministérios cívicos semelhantes aos da antiga Roma. Após a sua morte foi renomeada de Constantinopla, tendo-se gradualmente tornado a capital do império.

313 Edito de Milão. Também referenciado como Edito da Tolerância, declarava que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, especialmente ao Cristianismo. A aplicação do Edito fez devolver os lugares de culto e as propriedades que tinham sido confiscadas aos cristãos e vendidas em hasta pública: "... o mesmo será devolvido aos cristãos sem pagamento de qualquer indenização e sem qualquer fraude ou decepção...". Deu ao Cristianismo (e a todas as outras religiões) o estatuto de legitimidade, comparável com o paganismo e com efeito desestabeleceu o paganismo como a religião oficial do império romano e dos seus exércitos.

314 Silvestre I, 33º Papa, 314/335; São Silvestre. Durante o reinado do Imperador Romano Constantino I, que instaurou o cristianismo como uma das religiões do Estado. A sua autoridade foi eclipsada pela de Constantino, e não assistiu ao sínodo de Arles (314) nem ao Primeiro Concílio de Niceia (325), convocados pelo Imperador. Não obstante foi durante o seu pontificado que a autoridade da Igreja foi estabelecida e se construíram os primeiros monumentos cristãos, como a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, e as primitivas basílicas de Roma (São João de Latrão e São Pedro), bem como das igrejas dos Santos Apóstolos e de Santa Sofia em Constantinopla. Silvestre I foi um dos primeiros santos canonizados sem ter sofrido o martírio. Festa em 31 de Dezembro. Conforme Oliveira Lima, um Edito de Constantino I conferiu-lhe a soberania sobre todas as ilhas do globo; isso porque as terras a descobrir eram todas, então, supostas serem exclusivamente ilhas.

314 Eusébio de Cesareia. Bispo de Cesareia (314/339), na Palestina, é referido como o pai da história da Igreja porque nos seus escritos estão os primeiros relatos quanto à história do Cristianismo primitivo. Quando o Primeiro Concílio de Niceia se reuniu, em 325, teve algum protagonismo. Nem era um líder nato, nem sequer um pensador profundo, mas como homem bastante instruído e autor famoso, caído nas graças do Imperador, acabou por salientar-se entre os mais de 300 membros que reuniram no Concílio. No final do Concílio, Eusébio subscreveu os seus decretos. Para ele a Igreja aparece como sendo o motor da História da Humanidade. A sua computação da Idade do Mundo, varia nos diferentes exemplares manuscritos da sua cronologia, mas o mais autorizado coloca o nascimento do Salvador no ano de 5199 do Mundo. Nesta era deve distinguir-se o ano civil e o ano eclesiástico: o primeiro começava em 1 de setembro, e o segundo, ora em 21 de março, ora em 1 de abril; é a era que muitos escritores da Idade Média preferiram e que tem sido seguida até nossos dias no Martirológio Romano. As suas duas grandes obras históricas são a "Crônica" e a "História da Igreja". Tenta estabelecer sincronismos do material histórico em colunas paralelas. É um dos exemplos mais antigos do que é frequente, hoje em dia, nas obras de referência, como enciclopédias, onde as linhas cronológicas se tornaram um instrumento de trabalho e consulta. Um homem como Eusébio teve, sem dúvida, um lugar inigualável nesta época em que as nações bárbaras começaram a invadir, em massa, a Igreja. No período que se seguiu, ninguém o suplantou em erudição. Os historiógrafos eclesiásticos foram capazes de o copiar, não de ocupar o seu lugar. Mais: Era da Criação do Mundo.

321 Edito de Constantino. O seu texto reza: "Que todos os juízes, e todos os habitantes da Cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol. Não obstante, atendam os lavradores com plena liberdade ao cultivo dos campos; visto acontecer amiúde que nenhum outro dia é tão adequado à semeadura do grão ou ao plantio da vinha; daí o não se dever deixar passar o tempo favorável concedido pelo céu." (in: Codex Justinianus, lib. 13, it. 12, par. 2.). Este texto teria influenciado a primitiva igreja cristã ao ratificar o domingo como dia de guarda. O Imperador deu um estatuto oficial à semana de 7 dias. Os dias da semana foram dedicados aos planetas conhecidos, ao Sol e à Lua: Dies Solis (Dia do Sol) - Domingo, Dies Lunae (Dia da Lua) – Segunda-feira, Dies Martis (Dia de Marte) – Terça-feira, Dies Mercuri (Dia de Mercúrio) – Quarta-feira, Dies Iovis (Dia de Júpiter) – Quinta-feira, Dies Veneris (Dia de Vênus) – Sexta-feira, Dies Saturni (Dia de Saturno) – Sábado. Mais: Calendário romano.

325 2º Concílio Ecumênico, Niceia I. Aceite por Católicos, Ortodoxos e Protestantes. Convocado pelo Imperador Romano Constantino I. Tópicos de discussão: arianismo, celebração da Páscoa, cisma de Milécio, batismo de heréticos e o estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio. Documentos: O Credo Niceno original, os cânones. Foi a primeira conferência de bispos ecumênica (do Grego oikumene, "mundial") da igreja cristã. Niceia (hoje Iznik), é uma cidade da Anatólia (hoje parte da Turquia). Foram oferecidas aos Bispos as comodidades do sistema de transporte imperial romano - livre transporte e alojamento de e para o local da conferência - para encorajar a maior audiência possível. Constantino I abriu formalmente a sessão. Este concílio teve uma importância especial também porque as perseguições aos cristãos tinham recentemente terminado. A religião cristã nesses tempos era majoritária unicamente no Oriente. No Ocidente era ainda minoritária, especialmente entre os pagãos, vilas rústicas. Daí o nome de pagãos para os gentios. O papa em exercício na época, Silvestre I, não compareceu ao Concílio, acredita-se que devido à sua idade avançada; enviou dois representantes. O antijudaísmo, ou o antissemitismo cristão, ganhou um novo impulso a partir desse momento.

326 Vera Cruz, ou Cruz Verdadeira. O calendário litúrgico da Igreja, estabelece o dia 03/05/326 para a festa da Invenção da Santa Cruz, para o culto à Verdadeira Cruz, isto é, aquela onde Jesus foi crucificado. A descoberta dessa relíquia é atribuída à Imperatriz Helena, mãe do Imperador Constantino I, que, em peregrinação à Terra Santa, fez demolir, em Jerusalém, um templo dedicado a um dos deuses do império romano, construído no monte Calvário, para encontrar a relíquia da Cruz de Cristo. Eis a lenda do descobrimento da Verdadeira Cruz segundo Rufino Aquiles: "Helena veio a Jerusalém, inspirada por Deus. Um sinal celeste indicou-lhe o lugar onde devia escavar. Daí retirou três cruzes, a de Cristo e as dos ladrões. Helena ficou perplexa porque não sabia como reconhecer entre elas o madeiro sobre o qual Jesus sofreu a sua dolorosa agonia. Macário, bispo de Jerusalém, que assistiu à Imperatriz nas suas buscas, pediu que trouxesse num catre uma mulher à beira da morte. No contato com a primeira cruz, a moribunda permaneceu insensível, a segunda cruz também não produziu qualquer efeito, mas quando a mulher tocou na terceira, logo se levantou e andou, louvando a Deus. Este milagre permitiu assim descobrir a verdadeira cruz. Helena dividiu a cruz em três partes, uma para Jerusalém, a segunda para Constantinopla, a terceira para Roma.". Muitas lendas foram criadas à volta da Verdadeira Cruz, e na Idade Média, multiplicaram-se as relíquias da Cruz. Nota! Vera Cruz, o primeiro nome do Brasil, recém descoberto em 1500.

498 Símaco, 51º Papa, 498/514, São Símaco.

500 Ilhas Afortunadas. Foi o nome dado desde a antiguidade clássica a um conjunto de ilhas que se situaria no Mar Oceano. A sua posição real e a sua forma e dimensões variaram ao longo do tempo, mas era comumente aceito que as ilhas seriam paradisíacas, e a sua existência estava ligada à tradição edenica (relativo ao Éden) das culturas mediterrâneas. Na alta Idade Média europeia as Ilhas Afortunadas ficaram ligadas à lenda das viagens de São Brandão, monge irlandês que as teria visitado e nelas teria encontrado o jardim do Éden. Através desta lenda, as Ilhas Afortunadas ficaram associadas ao fundo mais abrangente das ilhas míticas do Atlântico: Sete Cidades (lenda), Antília (lenda), Ilha do Brasil (lenda), entre outras. A partir do século 1200 as Ilhas Afortunadas foram progressivamente identificadas com as Canárias. Mais: Uma ilha chamada Brasil: o paraíso irlandês no passado brasileiro.

Atualmente, com o advento da biogeografia, o nome foi recuperado na sua forma helenizada como Macaronésia (do grego makáron = feliz, afortunado; nesoi = ilhas), termo hoje adotado para a associação política entre os arquipélagos da periferia ibérica: Madeira (Portugal), Açores (Portugal), Canárias (Espanha), Ilhas Selvagens (Portugal), Cabo Verde (República de Cabo Verde).
500 São Brandão (Saint Brendan), o Navegador, ou Brandão de Ardfert e Clonfert. Nascido na costa ocidental da Irlanda, então a fronteira ocidental do mundo conhecido. Para além das viagens no mundo conhecido, a lenda atribui a São Brandão a realização de uma longa viagem pelo Atlântico noroeste que o teria levado a uma terra, geralmente descrita como uma ilha, situada fora do mundo conhecido. Brandão viajou em um coracle (curragh), antigo barco a vela feito de madeira e couro, muito usado na Irlanda medieval. Os primeiros coracles apareceram na Mesopotâmia 5.000 anos atrás.

A probabilidade desta viagem foi comprovada em 1976-1977 quando o explorador e escritor Tim (Timothy) Severin com uma tripulação de 4 homens navegaram da Irlanda à Terra Nova, no Canadá. A viagem foi lenta e agonizante. O coracle Brendan navegava a aproximadamente 4 nós. O barco tubular, construído como uma cesta de lavar, manteve a tripulação e provisões seguras e razoavelmente secas através de várias tempestades geladas. O "Brendan" tinha 36 pés de comprimento, deslocava 4 toneladas e era movido a remos e aproximadamente 400 pés quadrados de velas. Desajeitado, porém um excelente transportador de carga com um casco bom para a navegação.

500 Origem do vocábulo brasil. A mais óbvia é de que o nome da madeira provém da forma adjetiva brasil, por sua vez derivada de brasa, já que, por sua coloração avermelhada, a madeira do pau-Brasil parecia estar incandescente ou "em brasa". Entretanto, outras teorias associam o vocábulo brasil ao nome dado na Irlanda ao cinábrio (foto ao lado), o nome popular do sulfureto de Mercúrio(II) (HgS), um mineral de cor vermelha brilhante utilizado desde a antiguidade como base para corantes e para o vermelhão usado em pintura corporal. O vocábulo português cinábrio tem origem no grego kínnabar, latinizado como cinnabar. A palavra gaélica irlandesa equivalente é breazáil, ou simplesmente brazil, que depois aparece em castelhano como barcino ou bracino e em português como varzino ou brazino como designação dada à cor dos bovinos avermelhados. Todos estes vocábulos têm o significado geral de vermelho e confirmam a ocorrência das grafias celta e ítalo-celta. Contudo é no gaélico irlandês, onde permaneceu mais vivo o substrato céltico, que se documenta melhor a ocorrência do barcino, brakino e breazil. A palavra sobreviveu até ao século 1700, como o documenta o título de O'Brazil dado a um poema do poeta irlandês Moore, sendo a palavra também referida pelo folclorista O'Flaherty. A origem da palavra gaélica O'Brazil é o celta Hy Breasil, que significa descendentes do vermelho, ou os do vermelho. Neste contexto o vocábulo O'Brazil, os do vermelho, passou a constituir uma referência aos gregos e fenícios, os quais ao deixarem de comerciar o cinábrio com os celtas como que desapareceram nas brumas do Mar Oceano, tornando-se um povo mítico e afortunado, que nunca voltou à Irlanda, porque vivia feliz na misteriosa e paradisíaca Ilha do Brazil. Mais: Purpúreo: as histórias do nome do Brasil.

Pau-brasil. Madeira cujo cerne em pó, ou em fragmentos, era usado para o fabrico de tinta de escrever e corante para fibras texteis (lã, linho, seda, algodão), concedendo-lhes um "suntuoso tom carmesiam ou púrpuro": a cor dos reis e dos nobres. Os europeus comercializaram 2 espécies: caesalpinia sappan e caesalpinia echinata. Caesalpinia, pertencente à sub-família Caesalpinioideae, subfamília botânica das leguminosas (Fabaceae). As espécies deste género são plantas lenhosas que ocorrem em zonas tropicais e subtropicais. O nome do gênero é uma homenagem ao botânico Andrea Cesalpino (1519/1603).
Pau-brasil de Sumatra, caesalpinia sappan. Conhecida primeiro, nativa da Ilha de Sumatra (da atual Indonésia), e levada para a Europa pelos venezianos, via Turquia ou Egito. Vem de 1193 a primeira referencia conhecida à madeira de nome brasil. Ela está num tratado comercial do Duque de Ferrara, no qual faz alusão a certa quantidade de "grana do brasil". Grana", "caixa", "cargua" sao algumas das formas utilizadas, depois daquele tratado, para se referir ao comércio de brasil. Nas Viagens de Marco Polo, um dos livros mais lidos no tempo desse viajante veneziano (1254/1324), também se lê que, na região de Sumatra, havia "brazil em grandes quantidades".
Pau-brasil do Brasil, caesalpinia echinata. Conhecida depois, nativa do Brasil, e levada para a Europa pelos portugueses, via Oceano Atlântico. No Brasil, os nativos davam ao pau-brasil o nome de ibirapitanga ("madeira vermelha", tupi) e já o usavam para tingimento de algodão. As árvores eram encontradas apenas na Mata Atlântica, no litoral, no trecho entre os atuais Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. Mais: Tapetes Orientais - tingimento, Corantes e Pigmentos - a química nas cores, G.R.E.S Imperatriz Leopoldinense - Enredo de 2004 - Breazail, Curiosidades sobre o pau-brasil, Caesalpinia sappan, Caesalpinia echinata, História e personagens.



600 Santo Isidoro de Sevilha. Foi Arcebispo de Sevilha (600/636), nasceu em Cartagena, Espanha, de uma família influente que foi crucial para as manobras político-religiosas que levaram os reis visigodos a converter-se do arianismo ao catolicismo. Diversos de seus familiares foram canonizados. Isidoro sucedeu como bispo católico de Sevilha seu irmão Leandro, o qual se opusera ao rei visigodo ariano Leovigildo. Seu irmão mais novo, Fulgêncio, também recebeu uma diocese no início do reinado do católico rei Recaredo; e sua irmã, Florentina, tornou-se abadessa responsável por quarenta conventos. Foi canonizado em 1598, e em 1722 o papa Inocêncio XIII o declarou Doutor da Igreja. É considerado, hoje, patrono dos bons usuários da Internet. É um dos grandes elos de transmissão da cultura clássica para a Idade Média. Sua obra Etimologias é uma espécie de enciclopédia, muitíssimo utilizada ao longo de toda a Idade Média. Tanto assim que mesmo em autores muito posteriores, como Tomás de Aquino, encontram-se referências a esta obra. Ao examinar uma questão qualquer, o autor medieval costumava analisar a etimologia das principais palavras envolvidas na discussão. Não o fazia para ostentar erudição, mas por basear-se na convicção de que a denominação da palavra podia conter em si informações sobre a própria realidade referida. Etimologias é mais do que um livro sobre a linguagem: expressa toda uma visão do mundo da época. Compõe-se de vinte livros, cada um elucidando as etimologias das palavras de um determinado campo do saber: I. Gramática; II. Retórica e Dialética; III. Matemática (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia); IV. Medicina; V. As leis e os tempos; VI. Os livros e os ofícios eclesiásticos; VII. Deus, os anjos e os santos; VIII. A Igreja e outras religiões; IX. Línguas, povos, reinos, milícia, cidades e parentesco; X. Etimologia de palavras diversas; XI. O homem e os seres prodigiosos; XII. Os animais; XIII. O mundo e suas partes (elementos, mares, ventos etc.); XIV. A terra e suas partes (Geografia); XV. As cidades, os edifícios e o campo; XVI. As pedras e os metais; XVII. A agricultura; XVIII. Guerra, espetáculos e jogos; XIX. Naves, edifícios e vestimentas; XX. Comida, bebida e utensílios. Veja também: Isidoro de Sevilha: o patrono da Internet, Algumas Etimologias de Isidoro de Sevilha.

Renascimento do Mapa T-O (link quebrado). Mapa mundi elaborado por São Isidoro de Sevilha, em sua obra Etimologia, capítulo XIV. A terra e suas partes (Geografia). A Terra está representada por 3 partes, sendo cada parte atribuída a um filho de Noé: Ásia a Sem, Europa a Jafé, África a Cam. A Europa e África são separadas pelo Mediterrâneo. Estes 3 são separados da Ásia pelo Mar Magnum Fine. Circundando tudo fica o Mar Oceano. Externamente, orientando: à cima, Leste; à baixo, Oeste; à esquerda, Norte; à direita, Sul. Bastante esquemático, elaborado para ilustrar a obra, tornou-se um padrão de representação que vai estar presente durante séculos. Devemos compreendê-lo como uma representação didática numa sociedade em que raros eram alfabetizados. Nesta sociedade, a instância religiosa, no processo de evangelização, se propunha a dominar praticamente todos os aspectos da vida das pessoas, fossem eles econômicos, políticos e ideológicos. Historiadores da cartografia não classificam o mapa T-O como sendo sinônimo de uma concepção de mundo chato e circular. Preferem alertar para o fato de que as fontes utilizadas na Europa Ocidental - Estrabão, Pompônio Mela, Solino, Macróbio e Orósio - foram de compiladores da Antiguidade. A esfericidade da terra, conhecida por Anaximandro desde o século 600 a.C e o cálculo da sua circunferência estimada por Eratóstenes (século 200 a.C) parecem ter caído no esquecimento. A noção de uma Terra esférica já era amplamente divulgada no Tratado da Esfera de Sacrobosco, na primeira metade do século 1200. Devemos entender que as técnicas de levantamento de cálculos de coordenadas geográficas caíram em desuso na Europa Ocidental, em função do esfacelamento da estrutura administrativa do império romano, e, consequentemente, a noção de escala na representação. As bases que permitiam essa fidedignidade relativa na representação dos mapas desapareceram, trazendo sérios obstáculos ao mapeamento a partir de medidas. Permaneceu então o formato romano do disco chato, com a localização detalhada das cidades, montanhas, rios e limites de províncias. Veja também: Anaximandro de Mileto.

O Mapa T-O se adaptou bem às noções de geografia da época. "A terra é plana e divide-se em duas partes: ecumena ou parte habitada e anecumena ou parte desabitada. A primeira subdivide-se em três regiões: Ásia, Líbia e Europa, sendo esta última a mais extensa das três. Limita-se a ecumena da seguinte forma: ao norte, com o círculo polar, além do qual se estendem os gelos eternos; ao sul, com o trópico, marco das regiões do fogo; ao oeste, o mar Ocidental ou mar Tenebroso, povoado de duendes; a leste, o mar Oriental, misterioso e insondável. Os extremos habitáveis são as ilhas da Britânia, ao norte; o Sudão e a terra dos grandes lagos, ao Sul; a China, a leste; e as ilhas Fortunadas, ao oeste. O sol corre por cima da terra e, à tarde, esconde-se detrás de uma grande montanha para obrigar os mortais ao descanso. Os homens têm vários aspectos, conforme a região que habitam. Há homens de cabeça de pássaro; outros, de pés de porco; outros, de uma só perna; outros, de um só olho na testa, há viragos, mulheres guerreiras, mulheres metade peixe e metade gente, anões belicosos e gigantes antropófagos. O mar Tenebroso tem águas negras como breu, bravias como a ira divina. Suas ondas furiosas suspendem-se no espaço imenso e obscurecem a luz solar. Quem navegar o mar Tenebroso, perde a noção do tempo. Nele se encontram ilhas misteriosas, antecâmaras do inferno. Ao longe, onde as encapeladas ondas se rebentam em turbilhões negros, se levanta a ilha do castigo, pejada de árvores vermelhas, grande e pavorosa, na qual Judas sofre a pena de sua vil traição, recusado pelo inferno, e Nero cavalga um corcel de fogo, galopando doidamente. Gritos horríveis daí se levantam em clangores, num ecoar lúgubre e agoniado que gela o sangue nas veias dos atrevidos navegantes". Os árabes, senhores do caminho da Ásia, inteligentemente compreenderam os proveitos que adviriam para eles da conservação dessa geografia lendária e ampliaram-na com mais outros mitos. Mais: Na Margem da História (link quebrado).

1118 Papa Gelásio II, 162º Papa, 1118/1119. Foi um monge beneditino. Seu pontificado foi breve e atormentado. Teve que enfrentar o Imperador Henrique IV que nomeou o quinto antipapa. Teve que retirar-se para o convento de Cluny, onde permaneceu até seu falecimento.

1118 Ordem dos Templários. A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, melhor conhecida como Ordem dos Templários é uma Ordem de Cavalaria criada em 1118, na cidade de Jerusalém, por nove cavaleiros de origem francesa, visando a defesa dos interesses e proteção dos peregrinos cristãos na Terra Santa. Sob a divisa Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam (Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai a glória), tornou-se, nos séculos seguintes, uma instituição de enorme poder político, militar e econômico. Inicialmente, as suas funções limitavam-se à proteção dos peregrinos que se deslocavam aos locais sagrados, nos territórios cristãos conquistados na Terra Santa, durante o movimento das Cruzadas. Nas décadas seguintes, a Ordem beneficiou-se de inúmeras doações de terra na Europa que lhe permitiram estabelecer uma rede de influências em todo o continente. Uma das principais características da ordem era a sua autonomia em relação à hierarquia da Igreja Católica, sendo certo que seus membros só se sujeitavam ao próprio Papa. Tal autonomia isentava-os do pagamento de dízimos, e permitia que mantivessem os seus próprios cultos, padres, capelães, cemitérios etc.

1130 Papa Inocêncio II, 164º Papa, 1130/1143. Instituiu o celibato, combateu a usura (emprestar dinheiro mediante cobrança de juros), a simonia (venda ilícita de coisas sagradas), os falsos pontífices, e também os falsos sacramentos e as falsas penitências. Na bula "Omne datum optimum", estabeleceu privilégios para a Ordem dos Cavaleiros Templários. O principal desses privilégios foi a isenção da jurisdição episcopal, assim a Ordem tinha os seus próprios padres, os seus capelães, garantindo a assistência religiosa e o culto litúrgico, e que não dependiam dos bispos da região em que estivessem. Em 1142, o senado romano sublevou-se contra o pontífice. Em ato instigado por Arnaldo de Brescia, o Senado toma o poder civil dos papas, tendo como objetivo elevar a municipalidade ao status de comuna ou república, a exemplo de outras cidades do norte de Itália, desencadeando distúrbios que se estenderam por quarenta e quatro anos.

1139 Lista de reis de Portugal.
 
1139 D. Afonso I, 1º Rei de Portugal, 1139/1185; O Conquistador, O Fundador, O Grande. Infante D. Afonso Henriques, do Condado Portucalense. Note-se que Condado é um termo genérico para designar o Território Portucalense, já que os seus chefes eram alternativamente intitulados Comite (conde), Dux (duque) ou Princeps (Príncipe). Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques autoproclamou-se rei de Portugal, com o apoio das suas tropas. Segundo a tradição, a independência foi confirmada mais tarde, nas míticas cortes de Lamego, quando recebeu a coroa de Portugal do arcebispo de Braga, D. João Peculiar, se bem que estudos recentes questionem a reunião destas cortes. O reconhecimento de Castela chegou em 1143, com o tratado de Zamora, e deve-se ao desejo de Afonso VII de Leão e Castela em tomar o título de imperador de toda a Hispânia e, como tal, necessitar de reis como vassalos. Desde então, Afonso I procurou consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos conventos.

1277 Papa Nicolau III, O.S.B, 188º Papa, 1277/1280. Sucedeu ao Papa português João XXI. Nobre romano, serviu sob as ordens de oito Papas. Dante, em O Inferno (A Divina Comédia) menciona o Papa Nicolau III, que teria sido condenado a passar a eternidade no oitavo Círculo do Inferno, reservado a quem cometesse simonia, o pecado e crime eclesiástico de pagar para obter cargos na hierarquia da igreja. Na obra de Dante, os simoníacos são colocados de cabeça para baixo em buracos, com as solas dos pés queimadas por chamas (Canto 19). Nestes fossos, Nicolau III era o maior pecador, fato demonstrado pela altura das chamas nos seus pés.

1279 D. Dinis I, 6º Rei de Portugal, 1279/1325; O Lavrador, O Rei Trovador. Presume-se que tenha sido o primeiro rei português não analfabeto. Em 45 anos de governo preparara o então jovem reino de Portugal para a conquista dos mares; e, com tal objetivo, nas terras de Leiria, fizera plantar uma verdadeira floresta de pinheiros e outras madeiras aproveitáveis nas construções navais. Assim, em 1322, já a bandeira portuguesa tremulava, beijada pela brisa, nos mastaréus das naves d.El Rei. Foi nesse ano que a majestade lusa mandou a Gênova e Veneza, com amplos poderes para firmar contratos, um dos seus melhores ministros. E dessas plagas vieram para Portugal marinheiros práticos nas investidas do Oceano, e com eles o fidalgo genovês Manoel Peçanho, afamado capitão dos mares italianos. A este conferiu D. Diniz o posto de almirante da sua frota galharda. Quis, porém, a sorte que ao rei acadêmico não coubesse a glória de desencantar o mistério Atlântico, conforme fora seu desejo. No leito de morte pediu ao filho que completasse o trabalho tão auspiciosamente principiado, e fizesse a grandeza e a fama de Portugal no desbravamento dos mares desconhecidos.

1296 Mapa portulano (do latim portus, porto). Carta náutica manuscrita, normalmente não dispõe de um sistema de coordenadas geográficas (latitude e longitude), mas sim de retas direcionais (linhas loxodrómicas ou de rumo) a partir de uma rosa-dos-ventos principal, que se entrecruzavam com outras linhas que partem de rosas acessórias, dispostas ao redor da primeira. Este tipo de traçado permite calcular os pontos de acerto de rota de navegação com o simples auxílio da bússola. É costume que o norte esteja figurado do lado direito e o oeste na parte superior. A sua atualização era contínua, na medida do retorno de cada navio. Contribuiu para o seu aperfeiçoamento além do uso da bússola e do compasso, a introdução do astrolábio, que permitiu acrescentar latitudes. Os primeiros foram confeccionados em Gênova e Pisa; depois destacou-se a "Escola de Maiorca", na ilha de Maiorca, reputados pela beleza de sua ilustração. O mais antigo que se conhece é de 1296. Veja também: Mapa ptolemaico e Mapa mercator.

1300 Ampulheta. Ou relógio de areia, foi inventada no século 700. A partir de 1300 passa a ser usada a bordo. É usada para medir o tempo. O nome vem do latim ampulla (redoma). Constituída por duas âmbulas de vidro unidas pelo gargalo e de modo a deixar passar a areia de uma para outra, num determinado intervalo de tempo, através de um orifício. As duas âmbulas eram fabricadas separadamente colocando-se entre os gargalos de ambas uma pequena peça metálica com um orifício devidamente calibrado para a passagem da areia. A ligação era feita com um entrelaçado de cabo. Para proteger o conjunto era usada uma armação em madeira ou latão. Existiam ampulhetas para tempos de 1, 2 ou mais horas; as mais usadas eram as de meia hora. De boa precisão a ampulheta era, no entanto, afetada pelos balanços, temperatura - por isso devia ser colocada à sombra - e o alargamento do orifício desgastado pela passagem da areia. Mas, quem a manejava era ainda o maior culpado. Um esquecimento, um atraso ao virar ou ainda, e a mais frequente, motivada pela pressa em encurtar a duração de um quarto fazia que quem estivesse de turno, a virasse antes de esgotar toda a areia. Este fato era conhecido entre os marinheiros por comer a areia. A vida a bordo era regulada por este instrumento. Ao virar a ampulheta, o marinheiro tocava o sino; 1 badalada às meia horas e pares de badaladas correspondentes à hora de quarto. 1 par à primeira, 2 à segunda, 3 à terceira, 4 a quarta. O quarto é de quatro horas, e tem nomes: prima, das 8 da noite à meia-noite, modorra da meia-noite às 4, alva das 4 às 8 da manhã. O acerto do ciclo de 24 horas era necessário e fazia-se ao meio-dia através do sol, quando o tempo o permitisse. Mais: Ampulheta.

1302 Bússola. Seu nome vem do italiano do sul, bussola (pequena caixa). Mais conhecida pelos marinheiros como agulha de marear, ou simplesmente agulha, é sem dúvida o instrumento de navegação mais importante a bordo. Ainda hoje. Baseia-se no princípio que um ferro natural ou artificialmente magnetizado tem em se orientar segundo a direção do campo magnético da Terra. Os chineses conheceram-na muito antes dos europeus. Foram aqueles os primeiros a fazerem uso da propriedade da magnetite para procurarem os pontos cardeais. Parece que foi através dos árabes que esse princípio entra na Europa, onde se tem notícia do seu uso no século 1100. Inicialmente era composta por uma agulha de ferro magnetizada que se colocava sobre uma palhinha flutuando numa vasilha cheia de água e que apontava o Norte. Levava-se a bordo pedras de magnetite para se cevar as agulhas à medida que estas iam perdendo o seu magnetismo.

 Nápoles reclama que Flávio Gioia em 1302 alterou a bússola para ser usada a bordo ligando os ferros à parte inferior de um cartão com o desenho de uma rosa-dos-ventos. Os rumos ou as direções dos ventos têm origem na antiguidade. Na Grécia começaram com 2, 4, 8 e 12 rumos. No Atlas Catalão, de 1377, já se usavam rosas-dos-ventos com 32 rumos. Primeiramente o rumo era associado à direção do vento e só mais tarde aos pontos cardeais. A tradição de decorar o Norte com uma flor-de-lis tem origem nas armas da família Anjou que reinava em Nápoles. Alguns napolitanos adotaram esse símbolo, cuja moda chegou até aos nossos dias. Em certas rosas-dos-ventos, no local que indicava o Leste, aparecia desenhada uma cruz que indicava a direção da Terra Santa. A rosa-dos-ventos era marcada com os pontos cardeais e com os quadrantes divididos consoante os rumos. A declinação de uma agulha é a diferença que uma bússola marca entre o norte geográfico e o norte magnético. Não se sabe quem foi o primeiro a notar essa diferença mas desde o século 1400 que aparecem referências a esse fenômeno. As expressões nordestear e noroestear eram usadas pelos nossos navegadores para se referirem à declinação de uma bússola. Ao longo do tempo veio a verificar-se que a declinação variava com o tempo e o lugar; hoje sabemos, no Canadá ultrapassa os 40°, na Escandinávia é desprezável, em Portugal é de 7º.

A bússola de 1302 não tem uma agulha ou ponteiro; consta de leves barras magnetizadas e paralelas que se fixam na parte inferior de um disco graduado. O disco, com uma rosa-dos-ventos estampada, tem no centro um capitel com um cavado cônico com uma pedra encastrada (rubi, safira, etc.) onde assenta numa haste vertical, o pião, fixada no fundo do morteiro. No vidro ou na parede do morteiro existe um traço vertical chamado linha de fé que indica com rigor a direção da proa da embarcação. O disco com a rosa-dos-ventos, dentro da bússola não se move, aponta sempre para o Norte. Se o navio muda de direção, a linha de fé indica a sua nova direção. Mais: Bússola, História da bússola, Declinação Magnética.

1305 Papa Clemente V, 195º Papa, 1305/1314. Eleito após um pacto selado com o então Rei da França Filipe IV, O Belo, no qual o rei, com seu poder e influência o ajudaria a alcançar o papado se Clemente retirasse a excomunhão da família real, colocada pelo papa anterior. Eleito, com o Rei da França, colocaram em prática uma estratégia para a esmagar a Ordem dos Templários e se apoderarem dos seus bens. O Papa enviou instruções secretas, lacradas, a serem abertas simultaneamente pelas suas forças, por toda a Europa, no dia 13/10/1307, uma sexta-feira (este fato fixou, no imaginário popular, a sexta-feira 13 como um dia de azar). Nesse dia, ao serem abertas as instruções, os destinatários tomaram conhecimento da afirmação do Pontífice de que Deus lhe falara numa visão, alertando-o de que os Templários eram hereges, culpados de adoração ao demônio, homossexualidade, desrespeito à Santa Cruz, sodomia e outros comportamentos de blasfêmia. Como Papa, recebera de Deus a ordem de purificar a Terra, reunindo todos os Templários e torturando-os até que confessassem as supostas heresias cometidas. O seu pontificado fica também marcado pela mudança da Santa Sé de Roma para Avinhão em 1309, justificada pelos tumultos existentes na Itália. Avinhão não era então território francês, mas um feudo do rei da Sicília.

1311 16º Concílio Ecumênico, Vienne (França) (1311/1312). Convocado pelo Papa Clemente V. Teve como finalidades principais o Fim da Ordem dos Templários e a condenação póstuma do Papa Bonifácio VIII, por ter excomungado o rei francês Filipe IV de França.

1316 Papa João XXII, 196º Papa, 1316/1334. Pela bula "Ad ae Exquibus" de 14/03/1319 aprovou a criação, em Portugal, da Ordem de Cristo (Ordo Militiae Jesu Christi).

1318 Ordem de Cristo. A Ordem dos Templários teve uma extinção formal através da bula papal do Concílio de Vienne de 1312, entretanto o destino prático da Ordem, nos diversos países, foi muito variado. Em Portugal, o Rei D. Diniz I (1279/1325), em 14/08/1318, criou a Ordem Militar da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo (Ordo Militiae Jesu Christi), ou simplesmente Ordem de Cristo, que manteve praticamente a mesma estrutura material e hierárquica da ordem anterior, porém sob controle real. Na cruz vermelha sobre o pano branco, símbolo templário, foi acrescida uma nova cruz branca em seu centro, simbolizando a pureza da ordem. A Ordem de Cristo herdou todos os bens da Ordem dos Templários portuguesa e desempenhou um papel central nos descobrimentos portugueses. Por um lado, emprestaram recursos para a coroa portuguesa financiar os avanços marítimos, por outro, transmitiu à chamada Escola de Sagres todo o vasto conhecimento que já dispunham sobre navegação após anos singrando o mar Mediterrâneo. Essa ligação íntima explica porque as caravelas portuguesas tinham as suas velas pintadas com a cruz templária. Mais: Ordem militar de Nosso Senhor Jesus Cristo.

1325 D. Afonso IV, 7º Rei de Portugal 1325/1357; O Bravo. Não se esqueceu do pedido paterno. Cercado de homens de grande valor, quais o fidalgo Diogo Pacheco, o bispo do Porto, e o almirante Peçanho, investiu contra o mistério dos mares. O fracasso de várias tentativas não o demoveu de sua ideia. As expedições sucediam-se. Em 1343 houve no reino grande carestia de cereais, em 1347 ocorreu um sismo que abalou Coimbra, tendo causado enormes prejuízos, e em 1348 a peste negra, propagando-se na Europa, assola o país. De todos os problemas foi a peste o mais grave, vitimando grande parte da população e causando grande desordem no reino. O rei reagiu prontamente, tendo promulgado legislação para reprimir a mendicidade e a ociosidade. Como rei, Afonso IV é lembrado como um soldado e comandante corajoso, daí o cognome de O Bravo. A sua maior contribuição de nível econômico e administrativo foi a importância dada à marinha portuguesa. Afonso IV subsidiou a construção de uma marinha mercante e financiou as primeiras viagens de exploração Atlântica.

1325 Ibn Battuta, 1304/1377. Viajante e explorador berbere, nascido no Marrocos. Partiu da sua cidade natal em 1325 para a sua primeira viagem, cuja rota englobava o Egito, Meca e o Iraque. Mais tarde, correu o Iêmen, a África Oriental, as margens do rio Nilo, a Ásia Menor, a costa do mar Negro, a Crimeia, a Rússia, o Afeganistão, a Índia - onde visitou Calicute, por exemplo -, as ilhas de Sunda (Indonésia) e a região de Cantão, na China. Nos últimos anos de vida, esteve em Granada, Espanha, quando esta era ainda a capital do Reino Nazarí (dinastia muçulmana ibérica). Realizou depois a travessia do deserto Saara pela famosa e mítica trilha caravaneira de Timbuktu. Por fim, acabou por se fixar no seu país de origem, na importante cidade de Fez. Como testemunho das suas viagens deixou ficar a obra ditada e escrita pelo seu secretário, que se intitula Tuhfat, a qual relata as várias epopeias e jornadas aventurosas da sua vida de viajante explorador.

Sobre os juncos chineses ele cita: "Um navio carrega um complemento de 1.000 homens, sendo 600 destes marinheiros e 400 soldados, incluindo arqueiros, escudeiros e besteiros, que atiram nafta. Estas embarcações são construídas nas cidades de Zaytun (ou Zaitun, hoje Guangzhou) e Sin-Kalan. A embarcação tem quatro conveses e contém quartos, cabines e salões para mercantes; uma cabine possui compartimentos e um lavatório, e pode ser trancada por seus ocupantes."

1342 Papa Clemente VI, O.S.B., 198º Papa, 1342/1352. Escreveu a bula "Unigenitus", em 1343, para justificar o poder papal e a venda de indulgências. Este documento foi usado na defesa da venda de indulgências muitos anos depois, quando Martinho Lutero afixou as suas 95 teses em Wittenburg, em 1517. 

1343 Lenda de Sancho Brandão, muito reincidente na internet. Um dia aportou em Lisboa um dos capitães - Sancho Brandão. Desgarrando-se no Mar do Ocidente, castigado, pela tempestade, e impelido por uma corrente misteriosa, o capitão Sancho ao fim abordava uma terra magnífica, habitada por homens nus, opulenta em árvores de tinta vermelha. Tentara contorná-la, navegando para o norte. Não o pôde, porém descobriu outras ilhas. Carregando consigo alguns homens e algumas produções da terra, Sancho Brandão e seus bravos marinheiros velejaram para Portugal, ansiosos para incrustarem na coroa portuguesa a glória do primeiro descobrimento nos mares do Ocidente. Orgulhoso pela vitória conseguida e grato ao valente marujo que lhe dera uma terra nova, Afonso IV batizou a grande "ilha do pau vermelho" com o nome de "Ilha do Brasil". Em 12/02/1343, como era de praxe, comunicou ao Papa Clemente VI o auspicioso acontecimento, em carta escrita de Montemór O Novo. E assim se expressou: - "Diremos reverentemente a Vossa Santidade que os nossos naturais foram os primeiros que acharam as mencionadas ilhas do ocidente... - dirigimos para ali (ilhas do ocidente) os olhos do nosso entendimento, e, desejando pôr em execução o nosso intento, mandamos as nossas gentes e algumas naus para explorarem a qualidade da terra, as quais, abordando as ditas ilhas, se apoderaram, por força, de homens, animais e outras coisas e as trouxeram com grande prazer aos nossos reinos". (Documento do Arquivo Reservado do Vaticano, livro 138, folha 148 e 149). Juntou-se à carta um mapa da região descoberta e nele se vê a inscrição - Ínsula de Brasil. Desde aí os portugueses monopolizaram o comércio do pau-Brasil, provindo da ilha do Brasil. Tanto assim que, em documentos do século XIV (1301/1400), existentes em bibliotecas europeias, vem sempre o nome Brasil ligado ao de Portugal; - O Brasil de Portugal, diziam os ingleses no fim do século XIV.

1385 D. João I, 11º Rei de Portugal, 1385/1433, O da Boa Memória, O Bom, O Grande. Cronistas contemporâneos descrevem D. João I como um homem arguto, cioso em conservar o poder junto de si, mas ao mesmo tempo benevolente e de personalidade agradável. Na juventude, a educação que recebeu como Grão Mestre da Ordem de Aviz transformou-o num rei invulgarmente culto para a época. O seu amor ao conhecimento passou também para os filhos, designados por Luís Vaz de Camões, nos Lusíadas, por "Ínclita geração": o rei Duarte de Portugal foi poeta e escritor, Pedro, Duque de Coimbra o "Príncipe das Sete Partidas", foi um dos príncipes mais esclarecidos do seu tempo e muito viajado, e o Infante Dom Henrique de Avis, 1.º Duque de Viseu, "o navegador", investiu toda a sua fortuna em investigação relacionada com navegação, náutica e cartografia, dando início à epopeia dos Descobrimentos. A sua única filha, Isabel de Portugal, casou com o Duque da Borgonha e entreteve uma corte refinada e erudita nas suas terras. Foi cognominado O de Boa Memória, pela lembrança positiva do seu reinado na memória dos portugueses.

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